A meta da inflação para os próximos anos está em vias de ser definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), devendo ficar em 4% em 2020, 3,75% em 2021 e 3,5% em 2020. Essas taxas, ineditamente baixas para País com tradição inflacionária como o Brasil, podem abrir caminho para queda acentuada dos juros de longo prazo.
Metas inflacionárias nestes níveis colocarão o Brasil no patamar de alguns países emergentes – oito, para ser mais preciso –, com condições econômicas similares às nossas, mas cujas metas de inflação são mais ‘civilizadas’ que as daqui, girando entre 2% e 3%. Colômbia, Chile, México estão na faixa dos 3%. O Peru fixou-a em 2%, enquanto que a Polônia e a Tailândia, em 2,5%.
É preciso lembrar que não há meta de inflação ideal para todos os países. Isso porque inúmeras variáveis interferem no processo inflacionário: a produtividade, a taxa de câmbio, os juros, a dívida pública e a balança comercial de cada país.
Além disso, é necessário levar em conta fatores conjunturais, que incidem na oscilação dos preços. Globalização não quer dizer nivelamento.
Sabe-se também que nível mínimo de inflação é necessário para que a economia de um país possa crescer de maneira sustentável. Muitas vezes se esquece dessa verdade trivial.
Baixar as taxas de inflação sem provocar deflação é fundamental. Vale lembrar que deflação não é o mesmo que inflação baixa; esta indica que os preços continuam subindo, mas de maneira mais ‘comportada’, ou seja, com velocidade menor.
Somente quando a média dos preços começa a cair é que podemos falar de deflação, fenômeno tão tóxico para a economia como a hiperinflação. A deflação é o aumento do valor do dinheiro em razão da demanda agregada menor que a oferta. Um processo desses por período prolongado pode levar o país à depressão econômica.
Mas tal fenômeno tem sido mais observado nas economias maduras, como a dos países da UE (União Europeia) e do Japão. Não é o caso do Brasil. Aqui, inflação baixa ajuda a combater o processo inflacionário, como afirmou o ex-presidente do BC (Banco Central) Ilan Goldfajn.
Em cenário de metas em torno de 3% ou 3,5%, com economia ainda fortemente indexada como a nossa, é provável que essa redução abra espaço para que as taxas de juros de longo prazo caminhem para níveis mais sustentáveis, confirmando a trajetória das últimas semanas. E esse alinhamento das taxas de juros de longo prazo aos padrões internacionais seria extremamente benéfico para os investimentos no País.
Mauro Morelli é sócio da empresa da Davos Wealth Management.